terça-feira, 10 de junho de 2014

Todos nós temos paixões. Pelos filhos, pela família, pela música, literatura, artes, cultura ou seja lá o que for. Eu também as tenho. Filhos, família (correu sangue de Franco nas veias estou junto) música e literatura.Mas tem uma que é anormal. É pelo artista Noel da Silva Rosa.Não só pelo que ele nos deixou como legado, uma obra imortal que vai varar o tempo. Nunca neguei a minha admiração por Chico Buarque, o maior compositor de todos os tempos. Ocorre que Noel,além da obra, que conseguiu modificar a música brasileira, tinha algo a mais que todos os outros compositores: tinha o samba nas veias e a boemia impregnada na alma. E foi diferente de todos os outros justamente por esse fato, porque jamais permitiu que alguma circunstância da vida lhe afastasse de tais condições. Viveu como queria, independente das maledicências, das críticas que a sociedade fazia ao seu comportamento, principalmente do seu irmão mais velho, que o tachava de vagabundo por ele gostar de tocar violão. Fez do seu sentimento a forma de levar a vida. Ainda adolescente, sua avó se matou. Logo em seguida, o pai, um empresário do ramo de exportação e importação, faliu em razão da queda comercial advinda da guerra que a Alemanha declarava aos países vizinhos a ela. Se matou também. A mãe, professora que se afastou da função tão logo se casou, retornou à sala de aula. O irmão, um inimigo. E Noel continuava seus estudos normalmente e já fazia alguns sambas de forma amadora. Aos dezoito anos passou no vestibular de medicina. Passou também a compor com maior zelo e gravou. O dinheiro das gravações era para pagar a universidade. Passou a dividir os estudos com a boemia e os sambas. Aos vinte e dois anos estourou o Brasil inteiro com o samba "Com que roupa". A vida boêmia se agitava cada vez mais. Frequentava a roda de artistas como Benedito Lacerda, João Pernambuco, Carmen Miranda, Mário Lago, Ataulfo Alves, Francisco Alves e tantos outros. Aos vinte e quatro anos descobriu-se que ele estava tuberculoso. A descoberta não o tirou da boemia e nem dos amores. Casou-se com moça ainda nova. Mas a vida noturna logo o afastou dela. Teve outros amores. Contam que o maior deles era de uma dançarina de cabaré. Tinha ciúmes dela. Numa noite, foi para o cabaré, sentou-se numa mesa, pediu uma cerveja e lá ficou até quer ela terminasse o trabalho dela. Saíram, foram para um hotel, ela deitou-se e ele ficou sentado na beirada da cama a noite toda, sem dizer uma palavra. Pela manhã se levantou, foi à portaria do hotel, pagou a conta e se foi. Na semana seguinte, os rádios tocavam uma de suas maiores obras primas, Último Desejo, e ele fez com a dançarina justamente o que a letra da música narra. Nada impediu, nada mesmo, que Noel vivesse intensamente aquilo que ele queria: samba e orgia. Aos vinte e cinco anos, veio tratar de sua tuberculose em Belo Horizonte. Internou-se num hospital. Fugiu dele depois e ainda deixou um bilhete para o médico falando do cigarro que lhe foi proibido. No rio de Janeiro, continuava a sua vida, embora a tosse fosse sempre aumentando. Morreu antes de completar vinte e sete anos, deixando cerca de trezentas músicas, quase todas samba, uma linda marcha rancho, As Pastorinhas, e uma lacuna enorme na música popular brasileira. Foi justamente o amor ao samba, à orgia, ao sereno da madrugada e a indiferença a tudo que estava em volta, principalmente o desamor de quem não o entendeu, é que criou em mim essa admiração por este grande nome da música popular brasileira.

Um comentário:

Maria Gonçalves disse...

a boa música não é como outrora, pois tinham letra ,melodia se escreviam com sentimentos, Na atualidade só se ver a linguagem corporal