sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Eu perdi a minha mãe tinha apenas três anos. Guardo algumas imagens sobre ela mas não o seu sepultamento. Perdi a minha avó, que foi quem me criou, e sei a dor que senti. Depois perdi o meu pai e também senti muita dor. Mas eu era mais novo e resistia melhor aos baques da vida. Agora estou mais velho e muito mais sensível. Nada me chocou mais do que a foto da praia. Aquela criança linda, de três anos, morta, vítima de um radicalismo desenfreado, de um ódio que podemos dizer maligno, estirada à beira mar, inteiramente inocente de tudo que causou a morte dela. de um irmão e de sua mãe, também inocentes, e que pagaram o preço de uma geração ambiciosa, egoísta e que busca o poder derramando sangue inocente para saciar a fome de riqueza que persegue. A gente chega a pensar que nós. humanos, passamos a ser mais irracionais do que os outros animais. E acontece justamente quando eu postava, aqui, um outro texto falando da fuga do povo árabe para a Europa. E falava da convulsão do mundo. E logo a seguir, além da foto da praia. a TV nos mostra um homem, sua mulher e um filho, deitando numa linha férrea para que fossem esmagados por alguma composição que ali passasse, pois a polícia não permitiu que eles atravessassem a fronteira para que não morressem na guerra. E eu me ponho a perguntar: meu Deus, será que estamos no princípio do fim? Será que meus filhos verão ou sofrerão horrores piores do que esses? E temos que admitir: somos os principais culpados por tudo, porque aplaudimos um capitalismo selvagem, porque permitimos um comunismo excêntrico, porque não exercemos a justiça e a misericórdia como plumos da nossa vida, porque vivemos muito mais olhando para os nossos umbigos do que para os céus, onde deveríamos olhar incessantemente, e, por assim ser, estamos perdendo a nossa condição de coroa de toda a criação para agentes do mal, onde o amor esfria e o ódio se aquece. A foto da praia não é mais de uma criança árabe de apenas três anos. A foto da praia é de todos nós. nossos filhos, nossos pais e entes queridos. A foto da praia não precisa de uma parede para ser exposta, porque ela está fixada em nossa consciência. A foto da praia será sempre, para nós e futura gerações. o símbolo da dor de um inocente e do horror de tudo que podemos semear mundo afora.

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