terça-feira, 3 de março de 2015

Para muitos críticos musicais, Tito Madi foi o maior cantor brasileiro de todos os tempos, inclusive para o José Messias, que eu muito admiro e respeito. Mas, sou obrigado a discordar. Afinal, a injustiça é inerente ao ser humano, e,no caso, ou eles ficam com ela ou eu fico. Discordo porque o melhor cantor brasileiro de todos os tempos foi, sem sombra de dúvida, Orlando Silva. A voz mais bonita, a dicção mais perfeita e uma perfeita divisão, somando-se a tudo o ecleticismo, qualidade que o Tito Madi não tinha. Não só o Tito Madi, mas outros grandes cantores também. Orlando era um humilde trocador de bonde e recebia as passagens cantando. Um dia, Bororó o ouviu. Conversou com ele, perguntou o endereço e disse que depois o procuraria. Bororó procurou Francisco Alves, o rei da voz. Foram até o Orlando. Ouviram-no. Quando Chico Alves pediu-lhe a primeira música, ele cantou justamente Malandrinha, música que o Chico estava estourado com ela. Mais tarde, o próprio Chico confessava que arrepiou, porque achou mais bonita com o Orlando do que com ele próprio. Fizeram o teste de microfone e a voz do Orlando não foi alterada. Marcaram uma apresentação na Rádio Guanabara. A rádio fez as chamadas. Naquele dia e horário, com o Oduvaldo Cozi apresentando, a rádio bateu recorde de audiência. Foram marcadas mais seis apresentações dele. A Rádio Guanabara, que ocupava últimos lugares em audiência em todo o país, pulou para sexto lugar. Orlando Silva se consagra e recebe do mesmo Oduvaldo Cozi o título de Cantor das Multidões. Em 1938 ele estoura o Brasil com a música Sertaneja, numa época em que rádio era artigo de luxo. Difícil era casa que tinha um. Aí é que vem a qualidade eclética de Orlando Silva. Depois de estourar com uma valsa bem seresteira, em 1939 ele explode com uma marcha de carnaval que até hoje é sucesso e que todos conhecem, Jardineira. E daí para a frente, entourou com sambas como Brasa, Coqueiro Velho, Malandrinho, Violão. Juramento Falso e outros. E vinham outras valsas, como Lábios que Beijei, Cabocla, Rosa, do grande Pixinguinha. Número Um, Súplica, e choro como Carinhoso. Para quem conhece essas músicas, todas as gravações originais foram com Orlando Silva e, um detalhe maior, ninguém conseguiu canta-las melhor que ele. E não ficou só aí. Ele gravou toada, como Guacira, muito conhecida até hoje. Os shows artísticos feitos pelo interior do Brasil eram assistidos por um público que viajava de caminhão pau de arara. Na década de 40, não existiam as linhas de ônibus como hoje. E eu vi, com meus dez anos, a caravana de caminhões que chegava em Aimorés,no Vale do Rio Doce, de cidades da região para assistirem o Orlando Silva. Mas o sucesso embriagou literalmente o artista. Em 1947 ele parou de gravar e fazer shows em razão do alcoolismo. No dia 27 de setembro de 1950 morria de acidente de carro o grande Francisco Alves. A morte do rei da voz fez renascer Orlando Silva. Ele assumia na Rádio nacional, todos os domingos ao meio dia, num programa patrocinado pelas Casas Garçon, o lugar que pertencia a Chico Alves. Parou de beber, tornou-se evangélico da igreja Testemunhas de Jeová,, mas nunca mais foi o mesmo cantor. Morreu uns dez anos depois. Dificilmente irá aparecer no Brasil alguém com uma voz mais bonita do que a de Orlando Silva.

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