sábado, 19 de julho de 2014

"Só o mal é o que o inflama ao ódio. Porque o ódio ao mal é amor do bem. e a ira contra o mal, entusiasmo divino. Vede Jesus despejando os vendilhões do Templo. ou Jesus provando a esponja amarga no Gólgota. Não são o mesmo Cristo, esse ensanguentado Jesus do Calvário e aqueloutro, o Jesus iroso, o Jesus amado, o Jesus do látego inexorável? Não serão um só Jesus, o que morre pelos bons e o que açoita os maus?" Fascina-me este trecho do discurso de Rui Barbosa proferido quando paraninfo de formandos de Direito. É fantástico como Rui descreve os dois fatos antagônicos que a história de Jesus nos narra. Ela mostra o bem e o mal sob o julgamento do mesmo agente. Vê-se que Jesus reagiu aos mercadores do Templo usando de violência como forma de bem. Defendia Ele a casa do Pai, construída por ordem Deste, para servir-lhe de Casa de Oração. Lá no Gólgota, a arma foi o silêncio.Que arma terrível é o silêncio!Com ele, Jesus defendeu o Pai e toda a humanidade, abrindo a esta a porta da eternização. E como a história nos mostra a força do silêncio. John Huss não disse uma só palavra ao ser levado à fogueira. Giordano Bruno também. Tiradentes enfrentou a forca com o silêncio e a serenidade. Washington Luiz, exilado por Getúlio Vargas em 1932, saiu em silêncio do país. Jamais disse uma palavra sobre seu exílio. Retornou depois do suicídio de Vargas em 1954. Morreu dois anos depois e seu sepultamento foi o maior ocorrido até aquela época, enquanto para Getúlio foi negada missa de sétimo dia de sua morte. Voltando ao trecho do discurso do Rui, os mercadores do Templo não faziam nenhum mal à Deus. Faziam aos homens. Daí os antagonismos das situações.Não foi no Templo, onde esbravejava,mas no Gólgota, onde silenciou-se mansamente, que Jesus se tornou o maior ídolo da humanidade. Nele, o grito que se ouvia era o da correção fraterna, banhada em sangue justo, para que a criatura, um dia, pudesse se assemelhar ao Criador e Sua eternidade. A inteligência de Rui Barbosa, ao falar de justiça para os que se formavam nela, para discuti-la sob a toga da lei, se sublimou quando tomou por exemplo o verdadeiro paladino da justiça, Jesus, o que mais cobrou dos homens o rigor da balança, e o que mais condenou a hipocrisia. Infelizmente, hoje, a lei é conduzida, não pela justiça, mas pela toga do vil metal e dos interesses escusos, onde pode-se dizer abertamente e com a consciência impregnada de justiça, que as exceções são raríssimas aos que assim não agem.

Um comentário:

Unknown disse...

Professor Chico Franco, o cara.