quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Eu li o artigo do Luiz Ernesto Guimarães em que ele se mostra decepcionado com a entrevista de Geraldo Vandré. Amigo Luiz, vc não viveu o regime militar em seu auge. Vc nem chegou a conhecer a personalidade de Geraldo Vandré, que de Vandré não tinha nada, mas simplesmente Geraldo Pedrosa Araújo Dias. O Vandré foi tirado do nome do pai, José Vandregíselo, declaradamente comunista. Geraldo Vandré nasceu na Paraíba no dia 12 de setembro, data do aniversario de Juscelino Kubstchek. O que acontece, caro Luiz, é que tentaram fazer dele um mito colocando-o de forma frontal ao regime militar. Ocorre que ele era inconciliável, brigava com todos os amigos, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elis Regina e outros. Ele era difícil. Ademais, ele nunca esteve à frente na política. Ele aproveitou o gancho de um regime contestado pela classe estudantil, naquela época muito grande em numero e que tinha cabeças pensantes liderando, como Ziraldo. o próprio Chico Buarque, Taiguara, Eneida e outros, e se projetou através da música. Posteriormente, tentou se engajar de outras formas como apresentador de TV e não obteve sucesso. Criou-se uma série de situações pelo meio estudantil e também por aqueles que tentavam de toda forma denegrir o regime militar mais do que ele próprio se denegria. E disseram que ele foi torturado, sofreu lavagem cerebral e outras coisas mais, quando, na realidade, ele nunca foi engajado na luta contra o regime militar, mas fazia dele um motivo para as suas músicas. À guisa de exemplo, posso citar o Caminhando que, queriam como o grande vencedor do festival local e depois do internacional. Mas acho que misturar sentimento político com a arte é um desastre. A canção é bonita e condizente com aquele momento. Até mesmo a letra não é inferior ao Sabiá, mas também não é superior. O Chico Buarque fez uma letra pesquisada na poesia Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, de uma forma bem feita, saudosa como manda o contexto, enquanto Vandré partiu para um estilo Narselheza. Ocorre que a melodia, do grande Tom Jobim, é trezentas vezes melhor do que o Caminhando, colocada num refrão de dois acordes e que se estende em três no todo da canção, enquanto Sabiá é uma aula de modulações que enriquecem tanto a melodia quanto a harmonia. O Chico Buarque nunca tentou se impor como político, mas se tornou o maior compositor brasileiro politico de todos os tempos graças ao seu talento. E acrescento ainda a sabedoria, o que faltou ao Vandré. Ele se confinou muito cedo em sua vida de cantor e compositor. Passou a ser simplesmente advogado e a correr da imprensa, por certo em razão de não ter explicações para dar. E para que vc tenha uma ideia do mito que tentaram criar, uma banda de Governador Valadares, minha terra, chegou a fazer e gravar uma homenagem a ele, em que determinado momento diziam " Foi preso e torturado sofrendo DE atrocidades". É isso, caro Luiz.

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